"Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude. Neste mesmo instante estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando…Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que eu não tenho ido a Ele. Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha…Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas… é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais." 


Clarice Lispector - Água Viva

A roda viva

Vida incerta, vida que começa todos os dias, e é na incerteza das coisas que buscamos respostas, respostas essas que nem sempre conseguimos, nem sempre nos satisfaz.

Se tivessemos a plena certeza do nosso amanhã não vivíamos nessa inconstante luta entre nosso íntimo e nosso exposto, entre o que somos e o que parecemos ou precisamos ser.

Querer ser algo a mais é injusto conosco, fechar-se em copas é injusto com os outros.No momento em que precisamos estar só, é só que devemos ficar, forçar traz desconforto e indecisão.

A vida não se mede apenas pelos momentos de riso estampado ou quando sua voz ecoa por entre paredes, portas e pessoas, a tua solidão, a nossa indecisão preenche vazios, mas poucos percebem ou absorvem.

O silêncio diz muito do que somos quando saímos de casa sem a máscara, quando resolvemos sair com culpa ou omissão dos nossos "mundos particulares".

Somos culpados por sermos o que somos, ou por não ser o que precisamos ser.

Somos omissos por estar junto do outro e fazer do outro a pessoa mais sozinha desse mundo.

Tem dias que somos tão inúteis quanto as incertezas que temos das respostas que julgamos ter encontrado e que nos engana nos fazendo achar sermos donos de todas as verdades...