Impressões Natalinas

Nascemos cultuando a vida de Jesus Cristo e em um determinado dia do ano todos celebram sua vida.

Nascemos sabendo o que é o Natal, as tradições desta festa e as razões para tal mobilização.

Nascemos e crescemos condicionados a imaginar esta data de forma mágica, onde todos devem pensar e fazer o bem ao próximo.

Durante um dia apenas, podemos amar a todos, damos presente, somos acometidos pelo poder da oratória, nos emocionamos, agradecemos por estar entre irmãos, por eles estarem bem e com saúde.

Magia mesmo, pois, em nossa mente apagamos todas as agressões, toda a desatenção, tudo de ruim que desejamos ao longo dos dias.

Esquecemos que passamos 364 dias do ano vivendo por viver, sem olhar em volta, incapazes de um mínimo gesto solidário para com o próximo e principalmente com os bastante próximos.

A consciência deve pesar por pregar valores nunca feitos, por prometer coisas impossíveis, por falar um monte de inverdades e ainda achar que está fingindo tão bem que até pode acreditar.

Tenho certeza que o Senhor Jesus trocaria esse monte de falsidades de um dia por pequenas doses diárias de qualquer respeito nos outros 364 dias do ano.

Tenho certeza que o Senhor Jesus desconsidera cada lar totalmente desfeito, mas que se refaz nas pressas só pra contabilizar número e impressionar ( a quem?).

Tenho certeza que o Senhor Jesus não escuta uma só palavra daqueles que oram com tanto fervor só naquele dia.

Fingir que é feliz juntos na noite de Natal não engana o coração de quem vive sozinho o resto do ano.

Vida de Borboleta

Pelos lugares que andei procurei a medida certa, a história perfeita, os sintomas, as causas, justificativas. Tentei continuar sendo protegida pelo casulo de minha alma alheia a qualquer interferência. Não fracassei,  porém não fui avisada a tempo de aproveitar cada fio que tece esse casulo, a transformação que viria logo em seguida de alguma forma me mataria. A falta de preparo fez seu papel e nessa metamorfose cada fio tornou-se um desafio pela busca longa e incansável de momentos contidos na fragilidade e na delicadeza de cada bater de asas que a vida me traria. Pelo voo livre e incerto sou borboleta, sei da rara beleza deste  instante sagrado e em meu instinto sei também que minha passagem será muito breve.

 Para todo o mal há cura.. Será???

Ouvi dizer que o tempo cura tudo.

Ouvi dizer que o tempo não cura nada.

Fico com a segunda opção. Dor, sofrimento, mágoa, decepção o tempo não apaga.

O tempo engessa em cada parte do coração ou da mente(se preferir) tudo que nos foi dado em troca de qualquer coisa.

Se fosse curar, trataríamos de esquecer como se nunca tivéssemos vivido ou sentido(se preferir) as más experiências que a vida nos proporciona.

O tempo tatua em cada parte do corpo para exatamente nos fazer lembrar de absolutamente tudo que precisa ser lembrado hoje, amanhã ou depois.

Não discuto se é sadio ou não, se é coisa de gente normal ou não, se é coisa de quem tem rancor ou não, mas a verdade é que só dessa forma aquele "desenho ou cicatriz" não irá se repetir novamente (teoricamente).

Falo do tal amadurecimento que vem com o passar dos anos, que nos permite adaptar-se as novas condições, que nos permite reagir a adversidade, que pode até nos deixar na mão, mas que talvez será diferente( eu disse talvez).

E quem falou que não vivemos de passado? Tanto vivemos como tomamos ele para escrever o futuro.

E no fim de tudo prevalece a teoria que diz: "aprendemos mais com os erros que com os acertos. Continuaremos errando e caindo para levantar, prontos para machucar e sermos machucados.."

É  a lei natural da vida da mesma forma que nascemos para morrer..

  

Factual

E num importante momento você vê que cansou.
O cansaço de quem perdeu o motivo, o sentido, a causa.
A perda atas as mãos e pés, já não há o que fazer.
Deixas cair a máscara, já não precisas dela, cairás em si que fracassaste.
Percebeste que fingistes tão bem que até tu acreditastes na farsa?
Acreditastes nas verdades que tomastes para ti.
Enganastes de maneira leviana para esconder o que tava tão na cara.
Prendestes teus desejos e teus pensamentos em algemas.
Serás perseguido pelas correntes que ecoam o atrito para te fazer lembrar do começo da dor.
O grande martírio sentenciado único e exclusivamente pelo réu e juiz que te auto-flagela e auto-massacra até perderes a lucidez.
A razão, já não se encontra, perdeu-se em qualquer dos muitos becos sem saída que tens em tua mente.
No relógio são exatamente meia noite de uma meia vida.
Vida que fracassou, vida que sucumbiu em falta de ar.
Não precisas de amarras, solta-te das tuas angústias, reergue teus instintos mais primitivos.
De ti sobrou tão pouco, para não dizer que não sobrou nada.
Agarra-te a teu nada e transforma em teu tudo.
Resgata teu fôlego, aproveitas  silêncio, apagas a vela.
Podes salvar o que te sobrou de vida, agora que sabes que sóis medíocre.
Assumir-se medíocre.. A coisa mais nobre de tuas atitudes...
Agradeces agora..Acabou.

Se eu olhar pra trás...

Se eu olhar pra trás.. o que eu verei? Coisas boas? Talvez... e coisas ruins? Também..

Por que olhar pra trás de vez em quando e não sempre olhar em frente? Por que pode não parecer mas, o passado ainda nos pertence, temos direitos sobre ele.. vivemos.. e isso é mais que suficiente.

É muito bom olhar pra trás e ver que você fez tudo certo, que foi protagonista de momentos inesquecíveis, foi você quem viveu todas as sensações e por isso deveria estar plena de satisfação certo? Em partes...

Olhar pra trás nos diz muito mais do que não feito.. vem de analisar quantas coisas deixaram de ser ditas ou foram ditas de forma indevida, que essas coisas podem ter machucado alguém e que este alguém sempre lembrará desse "mal passo", vem dos gestos que foram dispersos e você também será lembrada por não tê-los feito, vem das emoções que foram abafadas ou inibidas pela simples espera do momento certo que nunca irá acontecer.

A vida comparo com um teatro que será apresentado uma única vez e você como ator principal e também coadjuvante será o centro de todas as atenções.. Que grande importância..

Por esta tal importância permita-se aproveitar , ouvir, sentir, fazer.. Com ou sem arrependimentos todos esses atos são inevitáveis, a platéia está diante de seus olhos querendo o seu melhor ou o seu pior.

Não decepcione com a passividade, não cruze os braços..e lembre-se...

Será um único ato a cortina fechará e você não terá  direito a reprise..

Os tempos são outros...

Já ouvimos essa frase de alguém possivelmente mais velho e que tenha tido mais experiencias. OS TEMPOS SÃO OUTROS MESMO!

 Tempo de quem não tem mais tempo, de quem não tem vontade, de quem se arrasta, de quem é arrastado.

A dinâmica da vida avança de forma assustadora você não só envelhece em idade mas as suas ideias caducam.

Caduquice de ver tanta inconstância, caduquice de ser, de só tentar ser e continuar não sendo.

Caduquice de se curvar em espinha e pensamento, ser obrigado a não se curvar e pagar por tal ato.

Pena, medo.. estou gradativamente percebendo que não se vive, não se respira livremente,não se espera,não se respeita. ESTAMOS EM OUTROS TEMPOS.

Seremos sugados até a ultima gota, ainda sim ficaremos  vivos. MUITO VIVOS.

Vivos e envelhecendo em corpo, caducando em alma e repetindo o velho texto batido de quem viu e comprovou que OS TEMPOS SÃO OUTROS!!! 

"Prefiro não antecipar angústias criadas  por qualquer motivo.. Tê-las comigo silenciosas e por que não até adormecidas já me é suficiente..Para sensações como essas que vêm junto de outros tantos sentimentos, reservo o momento certo pelo espaço de tempo necessário.." 

Beatriz  Rodrigues

 Na minha zona de conforto paro, penso, vejo, analiso e repenso..É como se quisesse uma voz, uma única e decisiva voz para me fazer acordar, para me jogar no rosto verdades frias e cruas, por vezes cruéis e intensas. Preciso acordar.

Qual o sentido de andarmos e termos a sensação de não sair do lugar? O que buscamos quando sentimos um vazio tão grande que até pode nos preencher? O que fazer para deixar de ver tudo como se por trás existisse uma película que nos deixasse totalmente alheios a nós mesmos?

Lentes de aumento para nos fazer acreditar, para nos focalizar, para nos firmar como seres capazes.

Como seria bom que ao despertar tudo voltasse ao sentido horário das coisas, a favor dos nossos desejos.

Um lugar, um sentido apenas e só depois, num breve depois poderia enfim encontrar o que faltava. Na minha zona de conforto estou serena.

Tenho todas as vontades comigo, sou capaz de realizar todas e delas farei terreno seguro..

Mergulhei minha âncora, JÁ POSSO DESCER..

"Ouvindo o barulho que o silêncio tem..Só sinto a presença de todas as ausências.."

Beatriz Rodrigues

Esvaziando...

Me sinto como um copo, não totalmente vazio, mas em processo...Aos poucos vem sobrando aquele barulhinho do fim sendo sugado pelo canudo.

Aquela sensação de pena porque está no fim e ao mesmo tempo de não querer mais nada, me sinto cheia, o liquido de minha vida está me deixando muito pesada e o peso vem certeiro nos ombros.

Mas agradeço por beber e me satisfazer, porque tem muita gente que espera pelo copo cheio que nunca vem, ou espera que passe um pouco da metade.

Fico pensando quando tudo isso acabar. O QUE IRÁ ME PREENCHER? QUAL SENTIDO TERÁ UMA VIDA QUE NÃO SABERÁ MAIS VIVER SEM TUDO ISSO.

Espero digerir, ficar bem satisfeita e depois quero outro copo transbordando, quero me aperrear para tomá-lo e claro que vou querer enlouquecer por achar que não vou ter como aguentar..

A gente passa a vida entrando em contradição, e eu não fugo a regra.. e sim pra quem tem dúvida EU SOFRO DE ANTECIPAÇÃO.. TEREI EU OUTRO COPO CHEIO? 

casal

casal, a photo by Beatnz on Flickr.

"E a gente caminhando de mão dada de qualquer maneira.."

Descobrir

Descobrir, a photo by Beatnz on Flickr.

"Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude. Neste mesmo instante estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando…Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que eu não tenho ido a Ele. Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha…Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas… é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais." 


Clarice Lispector - Água Viva

A roda viva

Vida incerta, vida que começa todos os dias, e é na incerteza das coisas que buscamos respostas, respostas essas que nem sempre conseguimos, nem sempre nos satisfaz.

Se tivessemos a plena certeza do nosso amanhã não vivíamos nessa inconstante luta entre nosso íntimo e nosso exposto, entre o que somos e o que parecemos ou precisamos ser.

Querer ser algo a mais é injusto conosco, fechar-se em copas é injusto com os outros.No momento em que precisamos estar só, é só que devemos ficar, forçar traz desconforto e indecisão.

A vida não se mede apenas pelos momentos de riso estampado ou quando sua voz ecoa por entre paredes, portas e pessoas, a tua solidão, a nossa indecisão preenche vazios, mas poucos percebem ou absorvem.

O silêncio diz muito do que somos quando saímos de casa sem a máscara, quando resolvemos sair com culpa ou omissão dos nossos "mundos particulares".

Somos culpados por sermos o que somos, ou por não ser o que precisamos ser.

Somos omissos por estar junto do outro e fazer do outro a pessoa mais sozinha desse mundo.

Tem dias que somos tão inúteis quanto as incertezas que temos das respostas que julgamos ter encontrado e que nos engana nos fazendo achar sermos donos de todas as verdades...

A vida da gente

“Ninguém entra num mesmo rio uma segunda vez. Pois quando isso acontece já não se é o mesmo; assim como as águas, que já serão outras.”

Foi um filósofo grego, Heráclito de Éfeso, que fez esta formulação que até hoje nos fascina. O fluxo eterno das coisas é a própria essência do mundo. E se ainda hoje ficamos espantados com isso, é porque nos apegamos teimosamente ao que já passou, esperando, no fundo, que tudo permaneça igual. Então, é necessário um filósofo da antiguidade, ou um escritor contemporâneo, pra nos fazer entender que nada é permanente, a não ser a mudança.

“O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não são sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior, é o que vida me ensinou.” Guimarães Rosa.

O filósofo flagra a fluidez, e o escritor se maravilha com isso. “É o mais bonito da vida” _diz Guimarães Rosa. É uma celebração do movimento; não é um lamento. O tempo não pára. E isso é belo. Então, quando me encontrares, eu serei outra, e você também.

Enfim..

O quanto se deve suportar por alguém? Por que devemos suportar? Qual o sentido do tamanho sacrifício?

Queria você ser reconhecida por tal ato? ou é simples e de coração? Quanto mais uma pessoa é pra você,mais você tenha que suportar certo? ERRADO

Das perguntas que me faço,tenho minhas respostas...

Quanto mais importante a pessoa é menos direito ela têm de lhe fazer suportar.

Suportar está além do que você normalmente aguenta,suportar vai além das forças.

Fazer alguém suportar é cruel,é minar a existência do outro ser.

Suportar é passar por cima do que você acredita, passar por cima do que você e do seu amor-próprio.

Normalmente não precisamos suportar as qualidades de alguém,essas são fáceis não pesam sobre nós. Suportamos sim os defeitos, inconstâncias, falta de limite e o superego de pensar somente em si.

É difícil suportar,mas se suportamos é porque no fundo amamos,amamos muito..e queremos não perder, guardar mesmo,aquele que sabe exatamente o motivo pelo qual você suporta.

Dívida alta, juros alto, a conta sempre muito cara..

Mas penso que eu também me encontre do outro lado e faça alguém me suportar pra não me perder, talvez seja da minha natureza viver suportando mesmo com aquela voz que diz que não preciso,não devo,não posso e que isso me acaba.

Queria muito poder dizer pra mim ou pra alguém que "Suportei, até que não suportei mais" Clarice Lispector

Carnaval

Não podia começar melhor a falar dessa festa ciando o meu mestre Chico Buarque:

"Uma ofegante epidemia,que se chamava Carnaval,carnaval,carnaval..."

Definição melhor ainda não encontrei, algo que descrevesse o que acontece com esse Estado que muda de nome nessa época e passa a se chamar ALEGRIA.. É sem dúvida o melhor carnaval do país por ser tão rico em história e cultura.

Não sou foliam, definitivamente sempre observo tudo de longe, mas corre em minhas veias o mesmo sangue contagiado do cidadão que começa na sexta-feira gorda e que sofre quando tudo termina na quarta de cinzas ou quarta-feira INGRATA.

Festa, várias horas de festa no subir e descer de ladeiras, que não cansa e que iguala todo e qualquer mortal. Ninguém explica a magia desses dias, só sente..e não precisa de nada além do sentimento,aos fantasiados, o sonho de ser quem quiser e puder, aos de cara limpa, muita coragem e disposição.

No carnaval podemos tudo ou achamos que podemos, tiramos a coragem dos super-heróis, a irreverência dos palhaços, a saliência de alguns outros personagens que no final vão compor o ritmo que bate igualmente em milhões de corações.

É uma epidemia mesmo, epidemia do bem, que cansa, tira as forças e quase mata de tanta felicidade. São dias em que todos são realmente felizes, ou dias de busca da tal felicidade..dias de espera pelo esquecimento de tudo que vai além do ato de viver..

Mas acaba...=(

E quando tudo acabar..a fantasia volta pro seu lugar reservado e espera mais um ano inteiro pra se materializar no corpo de quem vestiu..

Como epidemia, coisa que dá e passa..passa deixando muitas lembranças em quem viveu, vontade em quem só assistiu e a certeza de que um ano passa rápido pra ser feliz de novo.

Sobre o Rio de Jeneiro por Clarice Lispector

"Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não era distraída, eu estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade. Não era tour de proprietàire, nada daquilo era meu, nem eu queria. Mas parece-me que me sentia satisfeita com o que via."